2010…

Poderíamos pensar no tempo e no espaço como conceitos constante e estático, respectivamente… essa maneira de ver o mundo, no entanto, torna-lo-ía muito entediante e previsível. Em 2010 resolvi desafiar essa concepção, e não me arrependi.

2010 me ensinou que toda convicção é ignorante e limitada. As nossas certezas são reflexo dos paradigmas que dominam o conhecimento e impedem sua evolução. Devemos, portanto, estar atentos às anomalias desses paradigmas predominantes.

Muito mais do que certezas, 2010 me trouxe questionamentos. Hoje reconheço a importância dessas dúvidas que já fazem parte do que sou.

2010 foi um ano de ação, de movimento, de luta. Tanto internamente quanto no mundo externo. Isso não quer dizer que não houve momentos de reflexão… refletir implica analisar, decidir e reavaliar. É, portanto, parte de todas as etapas do processo de agir… 2010 foi ação, 2010 foi reflexão…

O tempo em 2010 reduziu; o espaço aumentou. O movimento gerou isso e, embora hoje eu esteja no mesmo lugar de 365 dias atras, estou também em um lugar muito diferente. Isso não é contradição.

Aproveitando o ensejo, quero agradecer às minhas contradições que se tornaram mais evidentes para mim… como boa defensora do velho Marx, entendo que esses meus antagonismos me fizeram evoluir e me mostraram que o bem não é a ausência do mal como eu supunha, mas o seu complemento perfeito.

Em 2010 eu aprendi que verdades universais não existem porque a verdade, bem como o conhecimento, são conceitos dinâmicos e que dependem da conjuntura (e dos paradigmas). As estruturas não são estáticas, logo o homem tem todo o poder de modificá-las.

Nesse ano eu percebi que o homem se tornou consciente demais de si mesmo para aceitar certos imperativos sociais. O resultado disso é que, de um ser social, tornamo-nos cada vez mais seres egoístas e individualistas. Por isso devemos reconhecer a importância dos movimentos sociais como uma forma de defender a democracia e o direito de todos à vida, a condições dignas de educação, saúde, segurança, a poder se expressar da maneira que for,…

Temos a obrigação de respeitar todas as formas de expressão, sejam elas eruditas ou populares porque cultura é simbologia, é representação, é externalização. Cultura não é civilização! Cultura não se opõe à natureza! Cultura é a natureza representada.

2010 me ensinou que quanto maior o nosso engajamento, maior a nossa crença na mudança, no aperfeiçoamento. Aprendi também que irredutibilidade não leva a nada, a não ser à manutenção da ordem vigente, opressora e injusta, embora os ideais se mantenham intactos. Por isso valorizo certo pragmatismo que gere resultados positivos e alinhados à minha ideologia. É importante, porém, que a ideologia seja hegemônica e o pragmatismo circunstancial.

Percebi, nesse ano, que identidade é auto-reconhecimento. Identidade deve ser endógena e nunca decidida por imposições externas.

Os opostos nunca são equivalentes. Sempre há um pólo dominante.

Estruturas organizam a vida social, mas elas não são totalmente rijas. Para mudá-las é necessário uma mudança nos paradigmas dominantes e na mentalidade do homem.

2010 me provou que nem sempre a felicidade deve ser arrebatadora. Felicidades tranquilas são mais duradouras e mais completas do que felicidades puntuais intensas. Também os sentimentos podem ser mais bem usufruidos quando combinados com uma leve razão.

Descobri que por mais bem acompanhados que estejamos, estamos sozinhos. Mas isso não é triste… é instigante, estimulante. Somos os únicos responsáveis, de fato, pelas nossas escolhas e devemos valorizar essa autonomia que nos é dada com muito discernimento. Apesar desse arbítrio que nos é concedido, tomei conhecimento do poder e da importância de uma decisão coletiva. Nem sempre é fácil defender “a linha”, mas uma vez assumido o compromisso, a sua proteção se faz necessária para a concretização dos objetivos do grupo.

Por fim, 2010 me mostrou, em cada dia, o poder da vontade e dos sonhos. Mas acima de tudo, da batalha, da luta. Sonhar por sonhar não gera resultados e não é tão prazeroso quanto ver a concretização desses sonhos. Se somos “do tamanho daquilo que vemos” como bem salientou Fernando Pessoa, somos maiores ainda quando vemos que os nossos anseios foram realizados. Por isso a importância da luta, da articulação, do engajamento. Por isso a necessidade do método, da organização (desde que esses não se sobreponham à ideologia). Por isso a relevância da clareza dos conceitos e da resistência frente às derrotas.

2010, enfim, me provou que a alegria é resultado das boas lutas e é também a única boa luta que existe.

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