A solução está na BASE.

Domingo passado, durante a formatura do meu irmão, um fato me chamou muita atenção: o discurso da diretora da Faculdade de Engenharia da UFRGS Profa. Dra. Enga. Denise Dal Molin.

Talvez os convidados estivessem emocionados demais, ou distraídos demais ou desinteressados demais para perceber uma passagem do discurso em que a senhora diretora dizia: “vocês (formandos) agora são parte da elite desse país, e como elite, vocês têm as soluções”. Não fosse o fato da minha família estar do meu lado toda sensibilizada pela cerimônia eu teria me levantado e vaiado na hora a sentença da Profa. Dra. Enga. Denise Dal Molin.

Ora, Profa. Denise, a solução não está na elite e sim no povo. As soluções para os problemas enfrentados pela sociedade não podem ser desenvolvidas de cima para baixo porque nada que seja feito nessa direção tem resultados efetivos na prática. Nada que seja decidido por um pequeno número de pessoas tende a durar muito tempo, até porque, nunca a decisão desse seleto grupo visa o bem da maioria.

Além disso, a naturalidade com que foi dita a frase me faz crer que para alguns acadêmicos tanto faz se o ensino público e de qualidade não abrange toda a população.  O fato de ser uma elite agraciada com um ensino gratuito custeado por toda população não causa um pingo de indignação, Profa. Denise? A mim revolta. Revolta não só por saber que essa exclusão continua reproduzindo o discurso de uma classe dominante que se utiliza de uma hegemonia cultural para se manter no poder, mas também por perceber que passados cerca de 70 anos o sonho do célebre Anísio Teixeira ainda não se concretizou: um ensino público e de qualidade para todos.

Infelizmente, Profa. Denise, a academia ainda preza o status, os prêmios, as produções. No entanto, te pergunto: qual o valor dessas honrarias se o conhecimento desenvolvido não têm alcance social? De que vale toda essa produção intelectual se não houver uma aplicação prática desse conhecimento que vise a melhora da sociedade, o desenvolvimento conjunto e equilibrado dos recursos e a homogenização (não cultural mas em termos econômicos) do povo?

NADA.

Profa. Dra. Enga. Denise Dal Molim, sei que não foi a tua intenção defender a elitização do ensino e, muito menos, a limitação deste a meras teorias sem alcance social. Pelo menos quero acreditar nisso. Mas, como representante da UFRGS, uma universidade que é historicamente engajada com o desenvolvimento tanto intelectual quanto social, a senhora não deve reproduzir um discurso elitista como o feito no útlimo domingo.

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.” (Paulo Freire)